Há quatro anos vivendo mais uma grande seca, já apontada por muitos como semelhante a de 1915 - de cem anos atrás - , guardando as devidas proporções, o Ceará volta a se debruçar sobre o problema hídrico, em busca de soluções que amenizem ou retardem o risco iminente de colapso de água, em dezenas de municípios do Estado. Se antes, a falta d'água afetava apenas o homem do campo, hoje já começa a impactar nas sedes das cidades do Interior, com reflexos na vida urbana da Capital, bem como no setor produtivo.
Com o avanço das obras da Companhia Siderúrgica do Pecém e previsão de início das operações para o fim de 2015 e começo de 2016, o governo estadual traça um plano B para levar água para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém
Limitada à produção agrícola, sobretudo a irrigada; prejudicada a pecuária, reacende agora a luz amarela do setor industrial, notadamente dos grandes empreendimentos e dos projetos estruturantes em formatação no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
Com o avanço das obras da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e previsão de início das operações para o fim de 2015 e começo de 2016, o governo estadual traça um plano B para levar água para o Cipp. Segundo o secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, dois projetos específicos estão em estudo, dentro do macro programa de convivência com a seca, a ser apresentado pelo governador Camilo Santana nas próximas semanas.
Tecnologias disponíveis
Um projeto para instalação de uma planta de dessalinização da água do mar e outro de aproveitamento e transporte de água de reúso, originária do interceptor oceânico de Fortaleza para o Cipp. Na área de dessalinização, conversas começaram a ser feitas com empresas da Espanha e com representantes do governo de Israel, país detentor das mais avançadas tecnologias de aproveitamento hídrico do mundo.
Na manhã de ontem, Camilo Santana e o secretário receberam, no Palácio da Abolição, o Cônsul para Assuntos Econômicos de Israel no Brasil, Boaz Albaranes, e a assessora extraordinária para a Missão Região Nordeste, Sheila Golabek Sztutmam. Na pauta, a possibilidade de desenvolvimento de projetos emergenciais e de médio prazo para o convívio com a seca e de modernização da irrigação.
Na oportunidade, o Cônsul israelita apresentou um leque de empresas com quem o Governo do Ceará poderá buscar parcerias publico privadas e importar tecnologias e soluções nas áreas de reúso da água, de controle e redução de perdas, de aproveitamento hídrico, além de equipamentos de irrigação por gotejamento e até aparelhos móveis de tratamento de água. Segundo ele, em Israel, a perda, o desperdício de água varia de 2% a 7%, dependendo da região. Já no Ceará, esse índice é de 24%, em São Paulo, 37%, e a média mundial é 25%.
Dessalinização
"O tempo (para desenvolvimento dos projetos) depende da vontade dos governos", explica Sheila Sztutmam, destacando que grandes projetos de dessalinização exigem "recursos vultosos" e requerem a participação dos governos estadual e federal. Ela explica, no entanto, que também já há tecnologias e equipamentos disponíveis para instalação de unidades modulares, seja para dessalinização, quanto para tratamento de água potável às comunidades do Interior e que podem ser instalados em até 60 dias.
"Em Israel, 70% por cento da água potável consumida no País é dessalinizada, percentual que deve chegar a 100%, nos próximos três ou quatro anos", destaca Albaranes, lembrando que lá, esse processo foi iniciado em 2000. No Brasil, a dessalinização da água para consumo humano é bastante utilizado nos navios da Marinha.
De acordo ainda com o Cônsul, em Israel, o custo da dessalinização é da ordem de US$ 0,65 por metro cúbico, (o equivalente a R$ 1,84, ao preço do dólar de ontem, a R$ 2,83), valor que pode variar de acordo com a distância do mar à usina e com o custo de energia.
Empresas espanholas com que o secretário Teixeira esteve reunido nesta semana dizem que o metro cúbico para o consumidor final custará em torno de R$ 5,50, no Ceará.
Para o cônsul, porém, outra tecnologia bastante eficiente é a educação. "Acho que a educação, a mudança cultural, de prevenção do uso racional e consciente da água podem ajudar bastante", ensina Albaranes.
Atendimento
Os reúsos de água da drenagem urbana, das residências e das próprias fábricas são outras prática sugeridas e que passarão a ser estudadas no Ceará, sobretudo para atender a agricultura e a indústria. Uma fonte alternativa é o interceptor oceânico de Fortaleza, que joga no mar, cerca de 2,3 m³/segundo de efluentes tratados pela Cagece. Esse volume poderia ser usado para atender as indústrias instaladas no Cipp, incluindo a CSP, a partir da instalação de dutos marinhos ou terrestres, ao longo da costa. A Cagece diz que ainda busca "equacionar recursos financeiros para a realização desses estudos".
Fonte DN
Carlos Eugênio
Repórter