terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Apenas 1 das 15 denúncias contra João de Deus à Polícia Civil deve virar inquérito, diz delegada

A Polícia Civil informou que, das 15 mulheres que já prestaram denúncias de abuso sexual  
contra o médium João de Deus até esta terça-feira (18), apenas um dos casos vai virar inquérito 
policial. O motivo é que os demais ocorreram há anos, quando a legislação brasileira previa
 que a denúncia só seria investigada se o registro fosse feito até seis meses depois do abuso.

A partir de setembro, a legislação mudou e não há mais prazo para que as denúncias e 
abuso sexual sejam registradas.
“A mudança dessa lei, de setembro, vem trazer para as vítimas no geral a condição de que ela 
pode demorar um pouquinho mais para tratar essa dor e não deixar de ir atrás, de fazer a sua 
denúncia e deixar que pessoas fiquem praticando crime vários anos sem algum tipo de punição”, 
disse a delegada Karla Fernandes, que integra a força-tarefa da Polícia Civil.
O abuso que, por enquanto, será apurado pela Polícia Civil teria ocorrido em outubro deste ano,
 na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, cidade goiana do Entorno do Distrito Federal, 
onde ele é o líder espiritual. A mulher foi ao local junto com o namorado.
De acordo com a denunciante, o médium a recebeu na sala dele para um atendimento
 individualizado e, nisso, apagou a luz e colocou a mão nas partes íntimas dela.
 Em seguida, ela percebeu que ele estava com o pênis de fora da roupa. 
O atendimento terminou, e ele ofereceu um quadro à visitante.
Em depoimento à Polícia Civil, o médium se lembrou de atendê-la. 
Ele negou que tenha abusado, mas confirmou que ofereceu um quadro a ela. 
João de Deus pediu ainda que sejam feitos exames para comprovar a acusação.

Importância de denunciar

Mesmo que não resulte em inquérito, os policiais pedem que as vítimas denunciem 
os crimes. O professor de direito e advogado Eder Francelino Araújo também reforça a 
necessidade de se registrar abusos. "Eles podem ajudar a comprovar como era o modo
 de operação dele e tal mesmo ja tento prescrito".
O promotor de Justiça Luciano Miranda Meireles explica que o depoimento da vítima tem
 um peso muito alto em casos de abuso sexal. Das 500 mulheres que já denunciaram 
o médium ao Ministério Público de Goiás, 30 foram ouvidas pelos promotores até esta terça-feira.
“Em crimes de natureza sexual, nós temos que observar que a palavra da vítima tem um 
sobrevalor. Eles geralmente não são acompanhados de testemunhas, não são praticados 
a céu aberto. A semelhança entre esses relatos também pode ser utilizado como material 
probatório”, afirma.

Prisão

João de Deus, de 76 anos, teve a prisão decretada na sexta-feira (14) a pedido da Polícia Civil 
e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que investigam os relatos de abuso 
sexual durante atendimento na Casa Dom Inácio de Loyola. No domingo, ele se entregou à polícia
 em uma estrada de terra em Abadiânia.O médium prestou depoimento na noite de domingo, durante
 três horas. João de Deus afirmou à Polícia Civil que, antes de as denúncias de abuso sexual virem
 à tona, foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Além disso, negou os 
crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos últimos dias.
João de Deus está detido no Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana
 da capital. Durante o dia, ele divide a cela com outros três internos, que são advogados, mas, à noite, 
ele dorme sozinho.
Segundo o advogado Alberto Toron, o pedido de habeas corpus foi protocolado na
 segunda-feira (17). Em entrevista no domingo, ele citou como alternativas possíveis uma
 prisão domiciliar e o uso de tornozeleira eletrônica. Além disso, negou que tenha havido 
intenção de fuga por parte do cliente.

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