deu, nessa quinta-feira (17), o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB. Ele é suspeito de comandar uma organização criminosa que recebeu mais de R$ 220 milhões em propinas.
Duzentos e trinta policiais federais cumpriram 38 mandados de busca e apreensão, 10 mandados de prisão e 14 de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a acompanhar a polícia para prestar depoimento. Entre essas pessoas, está a mulher, ex-primeira-dama e advogada Adriana Ancelmo. O Ministério Público Federal chegou a pedir a prisão dela, mas a Justiça Federal não concedeu.
O comboio da Polícia Federal saiu ainda de madrugada em direção a, pelo menos, oito endereços, em cinco cidades. O mais importante era um prédio no Leblon, na Zona Sul do Rio, casa de Sérgio Cabral.
O G1 ligou por volta das 13h para o escritório e celulares de advogados que representam Sérgio Cabral, mas não obteve retorno até as 15h24. A reportagem também tenta contato com as defesas das outras empresas e pessoas citadas na investigação.
CABRAL PRESO
Suspeito de cobrança de propina em obras
O aparato policial foi muito grande. Homens bem armados chegaram ao local por volta das 6h. Foram várias viaturas paradas em frente à casa do ex-governador. Às 6h40, veio a notícia dos agentes que estavam dentro do apartamento: Sérgio Cabral foi preso. Na saída do prédio, houve tumulto entre polícias que faziam a operação e curiosos.
Segundo os procuradores, o esquema de pagamento de propinas começou no momento em que Sérgio Cabral assumiu, em 2007, o cargo de governador. Faziam parte praticamente todas as grandes obras públicas de construção civil realizadas pelo ente público, algumas delas custeadas com recursos federais.
A investigação tem como base informações da operação Lava Jato e delações premiadas de executivos da construtora Andrade Gutierreze da Carioca Engenharia.
A partir de uma estimativa dos investigadores, levando-se em conta apenas três obras (Maracanã, Arco Metropolitano, um anel viário, e PAC em favelas), a organização criminosa pediu propina em torno de R$ 224 milhões. Os procuradores definem como um escárnio com a população brasileira, financiadora dos recursos desviados para o bolso dos corruptos.
O Ministério Público Federal revela como era a estrutura da organização criminosa. Sérgio Cabral, que foi deputado estadual por três vezes, senador e governador do Rio de Janeiro de 2007 a abril de 2014, é apontado como o chefe da organização e o operador político.
Dois secretários do governo Cabral, Hudson Braga e Wilson Carlos, eram os operadores administrativos. Havia ainda os operadores financeiros: José Orlando Rabelo, Wagner Jordão Garcia, Carlos Miranda e Carlos Bezerra. A polícia prendeu todos eles na manhã dessa quinta-feira.
Wilson Carlos, que era o braço direito de Cabral, foi preso em casa, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ao sair, ele não quis falar.
Carlos Miranda foi casado com uma prima do ex-governador e é apontado pela Justiça como o homem da mala, responsável pelo recolhimento da propina. O dinheiro era colocado em mochilas. Os procuradores descobriram que há anos ele é o responsável pelo envio, do seu próprio computador, das declarações de Imposto de Renda de Cabral e de vários parentes do ex-governador.
Carlos Miranda foi sócio de Sérgio Cabral em uma empresa de comunicação e, desde a década de 1980, ocupou vários cargos comissionados por indicação política do ex-governador.
Sérgio Cabral e os outros presos na operação são investigados por crimes como integrar organização criminosa, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro.
“A lavagem de dinheiro feita até hoje se estendeu após o mandato do alvo Sérgio Cabral. É um arcabouço probatório muito grande, uma produção de provas bastante exuberante de lavagem de dinheiro. Foi uma verba de propina bastante substancial, dinheiro em espécie entregue regularmente desde janeiro de 2010 até a renúncia do Cabral, em abril de 2014. Foram quase R$ 40 milhões de dinheiro vivo”, explica José Augusto Vagos, procurador da República.
“Basicamente verificou-se prestação de serviço de consultoria supostamente fictício para fazer lavagem de dinheiro, aquisição de bens de luxo, como helicópteros, lanchas, imóveis, obras de arte, joias. Enfim, a investigação gira em torno dessa situação”, afirma Lauro Coelho Júnior, coordenador da força tarefa da Lava Jato.
A Receita Federal, agora, faz os cálculos para saber quanto deixou de ser pago em impostos e definir o valor das multas que serão cobradas. “Esses contratos são contabilizados como custo operacionais, que deixam de compor a base de cálculo, no pagamento de impostos. Então, nós estimamos que deva ser levantado, apurado, em termos de auto de infração, algo em torno de R$ 450 milhões”, diz Denise Fernandez, auditora da Receita Federal.
Os procuradores do Ministério Público Federal e os delegados da Polícia Federal deram entrevista coletiva no da manhã para explicar esse esquema de corrupção. Eles disse que Sérgio Cabral recebia mesada de R$ 200 mil a R$ 500 mil por mês da Carioca Engenharia e da Andrade Gutierrez. Segundo eles, Cabral cobrava 5% de propina do valor das obras, além da taxa de 1% do valor total da obra, que eles chamavam de taxa de oxigênio e era o dinheiro que ia para os auxiliares do ex-governador.
A maior parte desse dinheiro foi recebido em espécie e, segundo os procuradores, foi lavado comprando objetos de luxo, como joias, barcos e imóveis. Essa investigação tem duas vertentes, uma no Rio de Janeiro e outra em Curitiba. Sérgio Cabral e Carlos Miranda tiveram prisão preventiva decretada nas duas cidades. Wilson Carlos, que foi secretário de governo nos dois mandatos de Cabral, teve a prisão preventiva decretada no Rio de Janeiro e temporária em Curitiba.
De acordo com as investigações da Lava Jato, em Curitiba, Sérgio Cabral ganhava propina do contrato entre a construtora Andrade Gutierrez e a Petrobras na construção do Polo Petroquímico da Comperj. Entre 2007 e 2011, o ex-governador recebeu R$ 2,7 milhões só nesse contrato.
O Jornal Hoje fez contato com as defesas de Sérgio Cabral, de Adriana Ancelmo e Delta Construções, mas não teve resposta. O jornal não conseguiu contato com as defesas de Carlos Miranda, Carlos Bezerra, Hudson Braga, José Orlando Rabelo, Wagner Jordão Garcia e Wilson Carlos.
O presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá, disse que o partido não será afetado com a prisão do ex-governador Sérgio Cabral. Ele acrescentou que espera que os fatos sejam investigados com profundidade e, a partir daí, se tenha uma convicção e julgamento na Justiça.
A Andrade Gutierrez e a Carioca Engenharia não quiseram se manifestar.