Camilo Santana revela que cobrou a participação de Lula na campanha e diz que entende a neutralidade da presidente Dilma no pleito do Ceará
FOTO: BRUNO GOMES
Na segunda parte da entrevista concedida ao Diário do Nordeste, na última sexta-feira, o governador eleito Camilo Santana afirmou ter cobrado a participação de Lula na sua campanha e revelou querer governar com os correligionários. Ele defende a reforma política para corrigir vícios existentes na política e no âmbito interno dos partidos.
Diário - O que o senhor conversou com o ex-presidente Lula? Para o senhor, governador do PT, Lula não veio ao Ceará pedir votos. O senhor reclamou? Ele lhe pediu desculpas?
Camilo - Entendi e compreendi que, durante o processo eleitoral, a presidenta Dilma tinha dois candidatos aqui, apesar de que o meu adversário nunca ter pedido voto para a presidenta Dilma. Nem no debate e nem na televisão. Mas não seria eu que iria exigir ou constranger não só a presidenta Dilma como o ex-presidente Lula. Eu entendi que, pela importância da eleição nacional, o Ceará tinha que ficar de fora da participação tanto de um quanto do outro. Cobrei muito a participação do Lula, mas quando passa a eleição e a gente ganha, a gente tem que pensar no futuro. Não dá mais para pensar no passado. Na conversa com o Lula, primeiro, foi ele quem me convidou. É um momento histórico para o PT, o primeiro governador do Ceará. (Na reunião, também foi abordada) a preocupação com a estrutura na gestão da Dilma, o resultado das urnas que foi apertado. Isso foi um recado que a população deu. (Ele prometeu) ajudar muito o nosso Governo no Ceará. De certa forma, mais uma vez justificou a ausência dele. Hoje a presidenta Dilma precisa muito do Senado e o PMDB é aliado, é parceiro do Governo Federal. Então, nós entendemos todas essas questões que ocorreram.
Diário - Com relação aos correligionários de Fortaleza, (alguns) não queriam que o senhor chegasse ao Poder.
Camilo - Eu quero olhar para frente. Hoje (sexta-feira), tive uma reunião com a Executiva, pedi o apoio de todos, independente de divergências eleitorais ou políticas. O que está em jogo é o nome do partido, o projeto para o Ceará. Eu tenho uma grande responsabilidade e para mim é uma honra dirigir o Estado nos próximos quatro anos. Portanto, eu gosto de olhar para o futuro. Quero muito o apoio. Quando eu terminei a eleição, eu tirei dois milhões, 417 mil e 680 votos, mas eu vou ser o governador de todos os cearenses. Primeiro, eu quero unir os cearenses, unir as famílias cearenses. Dentro do partido, eu quero unir o meu partido, que todos me apoiem para que a gente possa fazer um grande Governo, uma grande gestão. Focada em resultados, focada na melhoria de vida das pessoas mais pobres do Estado.
Diário - Como estão as discussões com os correligionários do senhor sobre como será a posição do PT dentro do Governo do Estado?
Camilo - Nós fomos eleitos pelo conjunto de 18 partidos e eu pretendo conversar com todos eles. Aliás, foi a primeira coisa que eu fiz depois da eleição. Foi chamar todos os partidos e fiz uma reunião com todos eles. A ideia é criar um conselho político e eu mesmo vou presidir esse conselho. Vamos nos reunir três vezes por ano para que possamos não só discutir espaço no Governo, mas que possamos discutir políticas, ações, avaliações. A nossa aliança foi programática. Eu não assumi com nenhum partido, nenhum cargo dentro do Governo. Vou ter muito critério na escolha. Claro que ninguém governa sozinho. Da mesma forma que eu tive os partidos na eleição, eu quero ter os partidos para governar o Estado. Com certeza o meu partido terá espaço, até porque o espaço mais importante já é do partido, comigo sendo o governador.
Diário - Quando o senhor se filiou ao PT, o PT era outro. Antes, as pessoas se filiavam ao PT por questões ideológicas. O PT se desvirtuou desse caminho. O senhor se sente confortável no PT como estava há algum tempo?
Camilo - Acho que o PT é o maior partido não só em tamanho, mas é o maior partido do ponto de vista ideológico, do ponto de vista democrático. Filiado tem o mesmo poder dentro do partido que o presidente da República. Nós votamos para escolher nossos dirigentes municipais, estaduais, nacionais. Há um debate muito forte dentro do partido. É um partido orgânico. Considero o PT o maior partido da América Latina. Agora, tenho dito que acho que o partido precisa se reinventar para voltar um pouco a sua origem, a qual ele foi inicialmente criado. Quando o partido começa a crescer demais, ele começa a perder um pouco disso. Qualquer um que cometa qualquer desvio de conduta, precisa ser punido, penalizado. Hoje, qualquer pessoa entra no PT. Esse é um debate que está sendo feito internamente dentro do partido. Não sou só eu que defendo isso. O próprio presidente Lula defende também isso. O Governo ficou refém de alguns partidos, como o PMDB. Então, acho que a presidenta Dilma precisa fazer grandes reformas e precisamos fazer um reforma política nesse País.
Diário - O senhor acha que esse desgaste da imagem do PT dificultou a sua eleição?
Camilo - Se fala muito de corrupção e eu considero que nenhum governo combateu tanto a corrupção como o governo que o PT tem feito neste País. O problema é que isso se tornou público. Isso abriu as portas de forma mais transparente, mas acho que a decisão da presidenta Dilma de ser muito firme nessa questão de combater a corrupção, de punir quem se desvirtuar, independente de ser do PT, independente de ser de qualquer partido é um novo momento que nós estamos vivendo no País. Então, eu acho que essa é uma lição que nós estamos dando no País. Essa é uma lição também que o próprio partido tem que assimilar. Corrupção na política existe e não é só de hoje. Nos países mais ricos você vê. O que é preciso ser feito é o combate, criar ferramentas que possam não só combater a corrupção, mas punir as pessoas. Claro que a grande mídia fez uma exposição muito forte e isso é ruim para a política. Dá uma imagem ruim para o PT, mas dá uma imagem negativa para a política como um todo. Hoje se cria partido para negociar, para meter a faca no pescoço de quem está no Poder, para barganhar, para ganhar tempo de televisão. Isso não existe. Os partidos têm que ter ideologia, têm que defender um projeto para a nação.
Diário - E o senhor concorda com esse posicionamento do governador Cid Gomes de defender fusões partidárias ?
Camilo - O governador tem defendido uma tese de que é preciso enfrentar esse poder excessivo que hoje o PMDB tem dentro do Governo. Para isso, para que se possa fortalecer alguns partidos menores, é preciso juntar os partidos. Esse que tem a mesma proximidade de visão ideológica. Acho que isso é importante, mas o fundamental para o Brasil é a reforma política, é garantir o financiamento público de campanha. Enfim, é a gente poder criar um novo momento para esse País, porque estão difíceis as eleições da forma que estão acontecendo.
Fonte:Diário do Nordeste.
Alan Barros/Edison Silva
Repórter/Editor de Política