O açude Castanhão, o maior reservatório do País, chegou ontem ao nível mais baixo desde que encheu, em 2004. Os 631,37 hm³ que perfazem 9,42% da capacidade do Castanhão devem diminuir ainda mais. O nível é atingido antes do fim da quadra chuvosa, no fim deste mês, e com longos sete meses pela frente até o início do próximo período de precipitações.
“Ainda deve piorar muito até que melhore”, adverte o presidente da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias. Ele não detalha a previsão do quanto o Castanhão deve baixar de nível, mas adianta que o açude Orós, com 35,03% da capacidade e até então poupado, deve ser acionado. “Pensamos em um sistema que, juntando a água dos dois açudes, tenhamos condições de perenizar o Vale Jaguaribe e abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF)”, projetou em entrevista durante reunião do Fórum Cearense de Comitês de Bacias Hidrográficas (FCCBH).
Acionar o Orós é uma possibilidade que tem gerado discussões e será debatida em reunião dos comitês no dia 2 de junho, em Quixadá. Para Daniel Linhares, presidente do Comitê da Bacia do Médio Jaguaribe (onde está o Castanhão), isso seria um alívio para a região que tem tido, segundo ele, agricultura, pecuária e piscicultura afetadas pela priorização do consumo humano da RMF.
Já Alcides Dutra, coordenador geral do FCCBH e secretário-geral da Bacia do Alto Jaguaribe, onde está o Orós, defende que é preciso cautela. “O Orós é um reservatório estratégico para atender toda aquela região. Abrir indiscriminadamente pode acarretar algo semelhante ao que aconteceu com o Banabuiú, que foi utilizado para atender o Castanhão e está seco”. Para ele, é preciso pensar uma proposta que não feche a utilização, mas em que seja usado com cautela e responsabilidade.
Expectativas
De acordo com Farias, mesmo com expectativas preocupantes, o racionamento de água ainda não foi cogitado. A Cogerh está trabalhando em seu planejamento com a economia de 10% do consumo, determinada pela tarifa de contingência desde o último dezembro pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). “No segundo semestre teremos uma maior restrição de água para irrigação e focaremos ainda mais no consumo humano. Nossa meta é chegar a 2017 com as reservas desses dois açudes acima dos volumes mortos”, acredita.
O presidente se vale do prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), de desaquecimento do Oceano Pacífico e de um 2017 com mais chuvas, para acreditar na posterior melhora. “Com uma quadra chuvosa boa, podemos ter uma recuperação de 20%, 30% da capacidade”, projeta. Além disso, o nível do açude deve ser recuperado também pela água da transposição do rio São Francisco que deve chegar em outubro ao Ceará e, no início de 2017, ao Castanhão, conforme Farias.
O gestor adianta que o Riacho dos Porcos, que ligará os reservatórios Jati e Atalho ao rio Salgado — afluente do rio Jaguaribe e caminho para o Castanhão —, está com problemas de assoreamento e poderá passar por obras de retificação da calha.