João
Carlos Martins é um artista como poucos. Uma combinação rara de talento
e determinação para superar as armadilhas da vida. Convidado do projeto
Saber em Harmonia, da Universidade de Fortaleza, ele conta um pouco de
sua história em evento que integra as comemorações de 40 anos da Unifor.
O maestro João Carlos Martins fala de sua trajetória de superação, hoje, na UniforPor
amor à música, Martins enfrentou 20 cirurgias e uma sucessão de
problemas motores. Nada o impediu de ser considerado um dos grandes
maestros brasileiros. Ele reconstitui essa via dolorosa na palestra “A
música venceu”, às 19h, na Praça da Biblioteca da Unifor. Os
interessados devem se inscrever via internet no site
www.unifor.br.
A
história e a arte de João Carlos Martins são tão ricos que, não à toa,
vão parar no cinema. Um filme, em fase de pré-produção, vai levar à tela
os principais episódios de sua trajetória. Nas telas, o maestro será
interpretado pelo ator Marcelo Serrado.
EncontrosNão
faltam episódios interessantes na vida de João Carlos Martins. Contava
apenas 20 anos quando se apresentou pela primeira vez no tradicional
Carnegie Hall, nos EUA, patrocinado por Eleanor Roosevelt. No fim dos
anos 1960, após um de seus recitais na casa, teve um encontro com
Salvador Dalí, que lhe deu um conselho: “Diga a todos que você é o maior
intérprete de Bach. Algum dia vão acreditar. Faz muitos anos que digo
ser o maior pintor do mundo e já há gente que acredita”. Martins não
quis apenas dizer, mas provar que era, de fato, um intérprete
extraordinário de Bach, de quem registrou toda a obra.
O maestro
é fundador e regente da Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi-SP e dirige
a Fundação Bachiana, também criada por ele, que desenvolve trabalhos de
musicalização com jovens e crianças em bairros da periferia de São
Paulo e outras capitais.
Palestra“Eu
digo que a música venceu, porque mesmo com todos os percalços na minha
vida, consegui continuar na música e posso agradecer a Deus por isso. Eu
tenho hoje dois papeis na minha vida: o de continuar procurando a
excelência musical e a responsabilidade social”, justifica o maestro,
sobre o lema que não titubeia em repetir e que intitula a palestra de
hoje. A Filarmônica Bachiana, reforça, vem se destacando
internacionalmente, com concertos no Carnegie Hall, Lincoln Center,
Broward Center. “Hoje, a Bachiana é uma orquestra de ponta, que já
enfrentou cinco vezes, com galhardia, a crítica do New York Times”, diz.
Já
no trabalho com Fundação Bachianas, são atendidas hoje em média 4 mil
crianças. Além de narrar sua trajetória, João Carlos Martins fala sobre o
trabalho social. O projeto atua em bairros da periferia e cidades
próximas a São Paulo, caso de Suzano, Osasco, Paraisópolis e Jaraguá.
“São localidades pobres. Estamos selecionando talentos no meio de
escolas. Em cada um formamos um coral e escolhemos 21 talentos para uma
orquestra de cordas”, detalha Martins.
Ceará- AquirazUm
dos projetos da fundação começou a ser realizado em Aquiraz. Segundo o
maestro a meta é realizar algo semelhante ao que é feito em São Paulo.
Segundo o maestro, um dos objetivos da visita a Fortaleza é também
conseguir apoios para o projeto. “Em Aquiraz, começamos de forma muito
modesta. Conseguimos realizar 5% do que queremos”, diz. Neste mês, a
Fundação Bachianas lança um método de ensino musical, batizado de
“Método a La Corda”, que João Carlos pretende implementar em Aquiraz e,
se possível, em outras localidades. “Quero aproveitar os dois dias em
Fortaleza para ver como a gente consegue botar o Estado do Ceará nesse
contexto. Para mostrar que a música une povos, gerações e une
comunidades”, argumenta. Seguindo o método, ilustra o maestro,
com pouco mais de um ano de ensino é possível colocar uma orquestra
infantil para tocar peças como as de Vivaldi. “O método foi criado pelo
professor Ênio Antunes que trabalha há alguns anos comigo. É um método
onde uma criança aprende música antes de aprender a ler”, detalha.
SuperaçãoJoão
Carlos Martins iniciou sua trajetória como pianista ainda criança. Aos
oito anos de idade venceu seu primeiro concurso, executando obras de
Bach. Sua estreia profissional, aos 20 anos, no Carnegie Hall. Em 1966,
sofreu um acidente em Nova York que lhe impôs o primeiro grande
obstáculo, de saúde, a ser superado. Rompeu um nervo que prejudicou os
movimentos da mão direita.
Durante a década de 1970 desenvolveu,
em ambas as mãos, lesão por esforço repetitivo. Foi obrigado a se
afastar por alguns anos do piano, voltando à atividade em 1978. Na
década seguinte, novamente teve que se afastar do piano, pelo mesmo
motivo. Voltou a tocar, novamente, em 1990. Uma pancada na cabeça
desferida por assaltantes na Bulgária paralisou parcialmente o lado
direito do seu corpo. Após um ano afastado, em 1999, voltou ao piano,
desta vez, tocando apenas com a mão esquerda. Em 2002, descobriu um
tumor, que o afastou novamente do piano, dedicando-se, desde então, à
regência e ao ensino da música.
O maestro voltará aos palcos como pianista dia 23 de novembro, na Casa São Paulo, com o “Concerto para mão esquerda” de Ravel.
Mais informaçõesPalestra
"A Música Venceu", com o maestro João Carlos Martins. Hoje, dia 7 de
maio, às 19h, na Praça da Biblioteca Unifor (Av. Washington Soares,
1321, Edson Queiroz ). Contato: (85) 3477-3000
Fonte: DN