Ele disse mais: O patrimônio de Eunício saltou de 36 ou 39 para 100 milhões e isso precisa de atenção.
O POVO – Governador, o cenário que temos hoje no Ceará é aquele que o senhor projetava quando de seu primeiro governo, quase oito anos atrás? O Estado será entregue da forma que o senhor gostaria e imaginava?
Cid Gomes – Tem vários setores com registro de expressivos avanços e, óbvio, setores que não estou satisfeito (com o que foi feito), além dos que não poderiam ser melhores. Vamos tentar descrever aqui um pouco de cada um deles. Na infraestrutura, por exemplo, em energia, o Ceará oito anos atrás era um estado 100 por cento importador. Não se produzia aqui nenhum lote de energia , tínhamos algumas usinas termelétricas que eram usinas de backup, não havia produção permanente. Ao longo desses oito anos o Ceará se transformou num estado exportador de energia. Nós geramos mais de 1.000 megawatts de eólica, somos um dos dois únicos estados brasileiros que ultrapassaram essa barreira, e temos mais 1.200, aproximadamente, de térmicas que funcionam permanentemente. Como nossa demanda, a potência instalada necessária para que tudo rode no Ceará é algo em torno de 1.500, 1.600 megawatts, estamos conseguindo gerar um excedente. E todos sabemos o quanto a energia é estratégica e que já foi, e vez por outra volta a ser, um setor crítico.
OP - Pelo que o senhor está falando...
Cid - Em matéria de água, desde o grande investimento até o micro, não há parâmetro de governo que tenha feito próximo do que nós. Em um setor apenas, acho que açudes, acho que o Ciro fez mais. Na infraestrutura estradas, o que realizamos equivale a tudo que foi feito pelos outros governadores, somados. Entre restauração e implantação de novas estradas, há melhoria no padrão, duplicação, tudo sem cobrança de pedágios. São Paulo, por exemplo, deve ter tido uma grande ampliação de duplicação de malha viária, mas foi cobrando pedágio, ao contrário do que acontece aqui. Devia existir uns 30 km de Fortaleza a Pacatuba, imaginemos mais 30 km até Aquiraz e uns 10 km no trecho até Maranguape, quer dizer, somando tudo era 70 km. Pois nós estamos fazendo 200 km de estradas duplicadas e posso mencioná-las: Aquiraz-Cascavel, Beberibe, Pacatuba-Guiauba-Acarape-Redenção, Caucaia-São Gonçalo do Amarante-Paracuru e estamos prosseguindo agora para chegar até Trairi, a duplicação do Anel Viário desde Caucaia até a Ponte da Sabiaguaba, enfim... Outra área importante, portos. O que fizemos em termos de investimento é mais do que foi feito para implantação do Porto do Pecém, nós mais do que dobramos o investimento lá. Fomos de dois para quatro berços, implantação de descarregadores, aquisição de descarregadores, de esteiras, aquisição de outros equipamentos. Acho que em termos de infraestrutura o governo é um governo que se destaca e é fácil perceber isso. O Ceará é o quarto estado brasileiro que mais investe, enquanto temos a 11ª economia...
OP - Em valores brutos?
Cid - Em valores brutos, valores absolutos. Estamos à frente de Pernambuco, Paraná, Bahia, Goiás, Espírito Santo, Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, todos estados com economias maiores. Aeroportos? Também há investimentos importantes neles. Outro ponto a analisar é o da prestação de serviços sociais, os serviços de atenção, o que inclui saúde, segurança pública, educação, assistência social. Em educação, o que foi executado ao longo desses anos, frente ao que foi planejado, também se pode considerar uma conquista. O Ceará tinha muito pouca interlocução nos municípios e isso é fundamental, porque você não pode ficar aqui simplesmente cumprindo suas obrigações no ensino médio, esperando que o aluno venha do ensino fundamental deficiente, do ensino infantil deficiente, do processo de alfabetização etc, para conseguir recompor. Nossa postura foi de ajudar os municípios, na base, começando pelo processo de alfabetização. Agora estamos avançando, pegamos as duas séries iniciais, 1º e 2º ano, pegaremos 3º, 4º e 5º, apoiando, orientando, avaliando as crianças, e isso tem tido um efeito notório. O Ceará passou a ser uma referência no Brasil nesse próprio de acompanhamento e de melhoria na qualidade das séries iniciais do Ensino Fundamental. No Ensino Médio, focamos nossa atuação na busca de identificar os fatores que respondem pelo problema de ainda termos muita gente fora da sala de aula. Identificamos dois: um, a necessidade de levar escolas de Ensino Médio para sedes de municípios que não tinham, os pais eram obrigados a levar para outras localidades, e para grandes comunidades rurais. Então, devemos ter feito mais de 70 escolas de Ensino Médio, o que é recorde, em pequenas comunidades, pequenos municípios e em alguns distritos. Atacamos um outro ponto identificado como responsável pela baixa matrícula, não se trata de falta de oferta, a realidade é que existia sala de aula no 3º ano com oito alunos, procurando implantar escolas com algum atrativo, pelo tempo integral e pela perspectiva de formar as pessoas num nível técnico...
OP – Escolas profissionalizantes.
Cid - Exato. A um só tempo, portanto, a escola que pensamos resolve os dois problemas identificados, porque é atrativa, tem tempo integral, biblioteca, laboratórios etc, além de suprir a questão da deficiência na formação técnica, que é nacional. Não existia nenhuma dessas escolas e hoje já são 105, há algumas ainda por inaugurar, outras por iniciar, e a nossa meta é universalizar o acesso e significando que os municípios com mais de 25 mil habitantes, todos, terão escolas de ensino profissional e os menores estipulamos que devem se organizar em consórcios para providenciarem os transportes dos alunos que o Estado se compromete a construir uma unidade escolar. Já existe uma experiência verificada envolvendo Mocambo, Pacujá e Graça, municípios vizinhos, em que uma escola atende aos estudantes dos três. Só acredito em política feijão com arroz, no sentido de que ela seja universalizada, não é só, como já vi no passado, construir uma escola integral, botar na televisão e tentar enganar as pessoas com a ideia de que exista escola com tempo integral. Lembro que quando assumi o governo havia uma escola de tempo integral, que era o Justiniano de Serpa, em Fortaleza. Não era profissionalizante. Hoje são 105 e a meta é universalizar até o final do governo. Fisicamente não conseguirei, mas os recursos ficarão assegurados, porque a verba que acabei de garantir no Ministério da Educação assegura a construção de mais 22.
OP - O que então estaria por trás da insatisfação da população, que, é verdade, não é apenas no Ceará. O fato, porém, é que saúde continua sendo o problema número um para os brasileiros e para os cearenses. Há necessidade de dar tempo à maturação de tudo isso que o senhor diz que foi feito?
Cid - Claramente, claramente, nós tínhamos uma ultradeficiência de leitos. Claramente. Tanto é que, falei aqui, ampliamos todos os hospitais de Fortaleza, implantamos um grande hospital no Cariri, implantamos um hospital em Sobral, implantamos as UPAs, e ainda há muitos problema. Outro dia estava no Facebook e uma menina reclamou que um parente estava na UPA do Pirambu, precisando de uma UTI e estava enfrentando dificuldade etc. Lá fui, então, resolver aquele problema. É claro que quem vê aquilo ali acha que está em crise, certamente a tendência de uma pessoa dessa é, claro, sair dizendo que há problemas, que um primo demorou oito horas para conseguir um leito de UTI. Estou, com isso, reconhecendo que há deficiências, tanto é que nós estamos andando para um Hospital Metropolitano e um outro mais regional, em Jaguaribe. As promessas dos candidatos para a Saúde, tanto Eunício (Oliveira, do PMDB) como Camilo, são duas coisas que eu já começo agora, certo. A do Camilo tem essa parte criativa de sugerir uma gratificação e o Eunicio, ao que me consta, a única coisa que tem prometido é o que já estou fazendo: a construção dos hospitais do Jaguaribe e o Metropolitano.
OP – O Sr. diz que teve dois compromissos em relação à segurança e honrou os dois.
Cid – Honrei os dois.
OP – Onde deu errado, então? Essa é a questão que se impõe.
Cid – Você sabe aquele filme Efeito Borboleta? Será que seria possível voltar sete, oito anos e fazer diferente? Ou não ter feito o que foi feito? Como estariam os números hoje? Aconteceu neste período um fenômeno que tem relação com o crack, que é motivação para 80% dos homicídios. Fomos ineficientes de cuidar da questão crack? Bom... Temos procurado trabalhar com esta questão há muito tempo. E no início do meu segundo governo eu formalizei uma coordenadoria (de combate às drogas). Um dia desses um cara fez uma demagogia dizendo que o orçamento do assunto droga era ínfimo. O assunto droga não é um assunto que esteja em uma secretaria. A coordenação não tem nem orçamento – o nome está dizendo, é para coordenar as ações que estão nas várias secretarias. Hoje, por exemplo, não temos deficiência de vaga para internação. Quem quer internação, o Estado está garantindo o tratamento. Mas não é só o viciado. Quando ele se vicia, muitas vezes ele recorre à violência e, muitas vezes, num assalto, acaba matando uma pessoa. E tem as mortes do narcotraficante, disputando espaço com outro, tem a morte do devedor... O que podemos fazer? Centralizamos a investigação dos homicídios. O que se recomenda para a identificação de pessoas que provocam violência? Polícia Científica. E nós criamos uma estrutura a parte, que é a Perícia forense, dupliquei a quantidade de pessoal e fiz investimentos em estruturas físicas e equipamentos. Eu mudei de secretário...
OP – E mudou de perfil. Saiu um formulador...
Cid – Mudei três vezes.
OP – E entrou o “pé de boi”.
Cid – Muito bem. Isso tudo demonstra minha disposição de acertar e de não me conformar com resultados ruins. Tive um secretário (Roberto Monteiro, que implantou o Ronda), no começo do segundo governo mudei o secretário (Coronel Bezerra), depois mudei de novo o secretário (Servilho Paiva, atual titular da Pasta). Há aí uma coisa que a meu juízo é um fator que acaba também interferindo e, parece, que vocês têm uma opinião diferente. Eu penso que hierarquia é fundamental em força de segurança. E houve uma quebra de hierarquia quando houve aquele movimento grevista, uma coisa que é constitucionalmente proibido por lei e isso até hoje tem provocado uma situação de dificuldade no comando.
OP – Se o senhor pega as taxas de homicídio, elas crescem muito após a greve ou motim da PM. Aquele é um momento chave. E o senhor coloca a questão da quebra de hierarquia, que de fato houve. O senhor não deveria ter demitido, naquele momento, o comando da Secretaria da Segurança?
Cid – Rapaz, devo confessar o seguinte: eu sou muito ruim de demitir. Eu não gosto, não gosto de demitir, e acho que muitas vezes é demagógico personificar a culpa. Eu sinceramente tenho restrições à esse posicionamento. Questões pessoais, questões pessoais. Estou admitindo sinceramente. (Pausa)
OP – O senhor fez um balanço do seu governo. Se tivesse de escolher uma área para dizer ao seu filho “disso eu me orgulho”, qual seria?
Cid – Educação, sem titubear.
OP – E qual o senhor diria, “isso eu preciso conversar com meu analista porque não consegui resolver”?
Cid – O desafio da segurança. E entenderei assim até o último dia. Agora, último ano da gestão, nós implantamos uma política de gratificação vinculado a resultados, que está apontando uma indicação de que a curva se inverte e que há uma redução dos homicídios. Não vou desistir, vou continuar. Mas é a área em que houve uma piora em relação ao que eu recebi.
OP – Como o senhor compara seu segundo governo com o primeiro?
Cid – Pessoalmente, é claro que eu tinha muito mais saúde no primeiro. Mas, enfim... Se a gente for ver números, não acho que tenha grande diferença, não. Pelo contrário, eu acho que o segundo é mais operoso. Agora, fisicamente eu não tenho mais a mesma saúde.
OP – O senhor está saindo de licença e quando retornar ao Governo, muito provavelmente o cearense já terá um novo governador eleito, a não ser que tenhamos um improvável segundo turno. O senhor esperava que essa sucessão fosse tão dura quanto está sendo? Aliás, o senhor fez esse mesmo movimento na eleição municipal de 2012 e venceu a disputa com Roberto Cláudio. Mas a eleição para governador é bem mais complexa. O que está nos seus planos?
Cid – (Risos) Eu não sou Maquiavel. Em definições políticas, são tantos os fatores que é impossível planejar todos os fatores. Eu sempre achei que o poder cansa e o poder concentrado provoca desconfiança nas pessoas. Já há uma predisposição de querer algo diferente. Eu sempre achei que nestas eleições as pessoas desejariam alguém novo. De alguma forma, é paradoxal alguém novo apoiado por quem já está no poder e quem concentra o poder tanto no Estado como na Capital. Quais as alternativas que eu tinha? Lá atrás, eu nunca tive a ambição de conquistar ou tomar de um parceiro a Prefeitura de Fortaleza. Eu cheguei a dizer textualmente estas palavras ao ex-presidente Lula quando o procurei: “Presidente, estou vivendo uma situação preocupante e queria compartilhar. É difícil para mim apoiar uma candidatura que seja 100% identificada com a então administração de Fortaleza, mas eu desejo que o PT tenha um candidato. Então, veja um nome do PT. Ele têm nomes que a gente poderia, em comum acordo, votar”. E o Lula disse que iria fazer uma rodada e resolveríamos o assunto. O retorno que eu tive foi a vinda do Presidente Rui Falcão para dizer que a Luizianne (Lins) tinha maioria no diretório (municipal do PT) e que eles não tinham como interferir nisso. Eu disse que ia levar para o partido e que achava difícil apoiar a gestão. Foi daí o lançamento da candidatura do Roberto Cláudio. Eu não queria disputar a Prefeitura. Fui por uma conjuntura e acho que fiz certo. O Roberto Cláudio vai ser um grande prefeito, mas agora está vivendo um momento de desgaste. Agora é que ele vai começar a prestar serviço. A luz disso tudo, qual seria meu melhor caminho? Apoiar o Eunício? Ele me procurou para pedir o meu apoio. Seria o melhor caminho? Penso que não. Eu o conheço bem, bem mesmo, de convivência de muito tempo, e conheço bem o Camilo. O Eunício, a meu juízo, padece de três defeitinhos básicos: é excessivamente ambicioso, e isso é uma coisa perigosa; o segundo deles, tem pouco compromisso com a verdade; e o terceiro, mistura negócios e política. Isso dá um caldo que é absolutamente perigoso para o Estado do Ceará. Pode parecer que estou aqui apelando, em véspera de eleição, mas esse foi o sentimento que me moveu para não apoiar o Eunício. E não foi outro. Alguém pensava: “O Cid vai apoiar um cara do partido dele”. Seria natural, mas não foi a minha opção. “Ah, o Cid vaia apoiar alguém que é amigo dele, lá de Sobral”. Eu procurei entre os nomes aquele que tivesse característica de personalidade que me desse segurança para o futuro do Estado do Ceará.
OP – E por que não foi um daqueles nomes da primeira lista?
Cid – Porque eu achava que o desejo do brasileiro é de uma coisa nova. A opção das pessoas é sempre muito complexa. Eu penso, compreendendo a dificuldade da eleição, mas acho que essa minha opção foi em nome da minha responsabilidade que eu tenho com o Ceará. Estou apoiando aquele que sei que é o melhor candidato.
OP – Mas essa questão...
Cid – Então, por que a dificuldade? Primeiro, eu não sou... Quem escolhe são as pessoas. Com relação aos nossos, eu sei que o Camilo foi a melhor opção. Não quero ofender ninguém. Temos bons quadros: a Izolda, que ficou na vice, o Zezinho, que vai para deputado estadual, o Domingos...
OP – Todo esse pessoal está engajado na campanha?
Cid – Estão. Todos eles engajados. Estive com todos eles nos últimos dois dias. Não tem a meu juízo nenhuma sequela. Mas, de todos esses nomes, o Camilo é o que está mais preparado. E consegue inspirar a visão do novo.
OP - Qual a razão da dificuldade?
Cid - O poder há oito anos, as pessoas naturalmente vão querer testar uma coisa nova, sabe-se o risco disso... E nas duas eleições minhas, havia uma fragmentação das candidaturas. Nessa, a oposição se juntou em uma só candidatura e ela veio de um partido que militava ao nosso lado. E o grau de interesse na eleição é bem menor, as pessoas estão acompanhando pouco. Isso reduz o fator que eu acreditava que as pessoas enxergassem no Camilo um cara novo, com toda motivação. Esse é o quadro. Mas a eleição está indefinida. Essa semana vamos ter debates na TV – o que praticamente não houve. Esse será o fator decisivo para que as pessoas conheçam um pouco mais dos candidatos. Se você for para o voto espontâneo, não chega a 50% a quantidade de pessoas que já tem candidato. Isso é uma tendência mundial. As pessoas estão cada vez menos se ligando (em campanha) e participando. Claro que no Interior é uma eleição mais forte, mas em eleições estaduais o grau de envolvimento não é tão grande. A tendência é essa: as eleições ficarão mais frias. Até porque as pessoas estão menos dependentes do poder público.
OP – O senhor falou da escolha de seu candidato, mas o senhor adiou para a última hora essa definição. O senhor não se arrepende disso, em vez de ter feito como o então presidente Lula fez com a presidente Dilma em 2010?
Cid – Isso não foi uma estratégia proposital. Não tínhamos um candidato natural. Estávamos avaliando. E eu pessoalmente sempre achei que quando você precipita processos eleitorais, isso prejudica a administração. Eu sempre achei isso. Tudo bem, vão dizer que o Eunício já estava em campanha há um ano, mas não tinha uma formalização da oposição por parte das candidaturas. E eu não acredito que ganha quem sai mais cedo. É um conjunto de fatores, e o que está faltando nessa eleição é debate.
OP – Com relação a sua crítica ao candidato Eunício...
Cid – Eu não fiz crítica, não. Esse é o conceito que faço dele. Se eu não fizesse esse conceito, ele seria meu candidato.
OP – Mas não eram críticas que o senhor fazia antes, quando ele era seu aliado.
Cid – Eu não estou fazendo críticas. Estou constatando, estou dizendo porque não optei por ele.
OP – Então, ele é bom para ser senador, mas não para governador?
Cid – Essa coisa é a seguinte... A política é feita de entendimentos partidários. Naturalmente. Ele não foi contra o Tasso? Não se pode dizer que ele derrotou o Tasso para senador e os dois não estão juntos agora? A política é feita de entendimentos partidários. Chega a uma circunstância que para ele fortalecer a candidatura dele era melhor se juntar ao Tasso com quem concorreu para senador. Foi ele que derrotou o Tasso para o Senado, com meu apoio. Senador não manuseia dinheiro. E ainda assim, o Eunício conseguiu saltar... Isso não é baixo nível, não. A legislação eleitoral brasileira diz que as pessoas quando se candidatam a um mandato devem fazer uma declaração de seu patrimônio e ao final também. Para ver se houve evolução patrimonial. É aquela história, se o cara não mudou o patrimônio, menos possibilidade de ter sido desonesto. Se mudou, não quer dizer que tenha roubado, mas isso deve ser justificado. O Eunício saiu de um patrimônio de R$ 36 ou R$ 39 milhões para R$ 99 milhões. Então, é uma coisa que merece atenção...
OP – O seu irmão, o secretário Ciro Gomes, chegou a chamar o senador de ladrão...
Cid – Olha, cada um tem seu estilo. Eu já fui vítima pessoalmente de muitas armações e muitas calúnias, muitas infâmias e injúrias. Tenho sempre muito cuidado em dizer alguma coisa. Estou dizendo em relação ao conceito que tenho dele. Estou dizendo porque é a minha visão pessoal e isso é para justificar porque não apoiei ele. Se eu quisesse uma vida fácil e fazer o sucessor teria apoiado tranquilamente. Mas não fiz opção pelo Eunício por conta desses três defeitos que enxergo nele. E posso dar exemplos: a ambição desmensurada está nisso. A pessoa saltou de patrimônio de 30, 40 para 100?? É uma pessoa ambiciosa. Isso não é defeito por si só. Vamos ver se foi honestamente ou desonestamente. Isso deve ser examinado. E, repito, para mim a política é incompatível com negócios. Na hora que você mistura negócios com política, o céu é o limite. Tudo fica nebuloso. O Eunício mistura muito claramente negócios com política, muito claramente. O Eunício, nessa CPI da Petrobras, fazia chantagens claras ao Governo federal. Claríssimas. É só ver o diretório do PMDB. Veja se não é o sócio número um, o sócio número dois, o sócio número três, que compõem o diretório. São sócios e familiares como regra. E, terceiro, essa falta de compromisso com a verdade. O Eunício mente como cachorro que acua alma. E mente desnecessariamente em coisas tolas. Mente em coisas importantes e coisas tolas. Quer que eu dê um exemplo? Ele estava presente comigo em Sobral para um evento com a presidente Dilma, em que eu fui muito elogiado. E brinquei: o único elogio que eu recebo sem questionamento é que eu sou o maior governador da história do Ceará. Aí dou uma paradinha e digo que sou o maior governador porque eu tenho 1,84m e já pesquisei que nenhum ex-governador teve 1,84m. Uma semana depois, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, diz que o senador Eunício Oliveira já sabe que vai ser o maior governador porque tem 1,86m. Fiquei com aquilo na cabeça e, dia desses, no Brics, fui na direção dele e disse: “Eunício, que história é essa de você ter 1,86m?”. Fui na direção dele para ficar lado a lado e a gente ver. “Não, governador, você sabe que quando a gente vai ficando velho diminui de tamanho”. Conversa fiada. O cara que mente na altura, me perdoe.... E eu já ouvi muitas. Esses três defeitos para mim são fatores decisivos.
OP – Há uma questão polêmica nesta campanha que foi um pedido para suspender a circulação da revista IstoÉ. O senhor participou desse pedido? Se arrepende desse pedido?
Cid – É muito engraçado isso. É tudo muito engraçado. Peço que façam um mínimo de esforço para se colocar na minha situação. Eu fui vítima, há quatro anos, de uma armação montada da mesma forma pelos mesmos personagens que usaram uma revista de São Paulo para fazer essa coisa. Era a história dos R$ 300 milhões que eu e Ciro estávamos citados em um inquérito da Polícia Federal e que havia desvios de R$ 300 milhões. E quando eu vi aquilo em um sábado de manhã, fiquei chocado pessoalmente. E a minha primeira atitude foi ligar para a Polícia Federal para que eles me dissessem se aquilo era verdade ou se era mentira. E eu não consegui. Eu liguei para o presidente da República, que na época era o Lula, e eu disse: “Eu exijo uma declaração da Polícia Federal. Se eu estou citado, que diga, se não estou citado, que faça justiça. E a Polícia Federal deu uma declaração e colocou no site dela de que não havia qualquer menção ao menu nome e do Ciro. E meus adversários usaram isso na campanha um mês. E eu tenho filhos, tenho mãe, tenho o meu patrimônio pessoal, que é a minha palavra e uma vida de seriedade, sem negócios. Eu não tenho nenhum negócio. Agora é que eu estou pensando no futuro e tem um terreno que comprei quando era deputado estadual, peguei um financiamento do Banco do Nordeste, fiz uma estrutura e aluguei e isso vai dar uma tranquilidade para minha vida futura. Mas assim mesmo um aluguel, de um terreno que eu já tenho há 20 anos. Essa denúncia me deu depressão. Eu fiquei em casa, prostrado, pelo que fui vítima. Processei a revista. Infelizmente, soube agora que foi arquivado de uma coisa que é clara: se eu fui acusado, cadê o inquérito, cadê a denúncia? Óbvio que não. Foi pura armação. O tal Moraizinho depois disse que recebeu R$ 30 mil para fazer esta denúncia. E agora, de novo, eu assisti esse filme quando recebi de um assessor que uma repórter tinha ligado para saber que meu nome estaria sendo denunciado por este tal Roberto. Ora, vou repetir: eu não conheço, nunca estive com essa pessoa.
OP – Mas, logo em seguida, foram divulgadas fotos em que o senhor aparece com Paulo Roberto Costa.
Cid – Não estou mentindo, não. Eu posso dizer que conheço... sei lá. Tem uma foto minha com o presidente Obama. O Obama me conhece? O fato de ter uma foto comigo quer dizer que eu conheço ele ou ele me conhece. Claro que não. O fato de eu ter estado com o diretor da Petrobras em uma reunião com várias pessoas ou em uma inauguração onde eu estava com o presidente da República... Aliás, vocês devem ter estado lá com algum repórter. O repórter do O POVO conhece o tal Paulo Roberto? Eu continuo com minha assertiva. Não conheço este cidadão. Estive com ele em algumas oportunidades formais, nunca estive com ele pessoalmente, Tetê-a-tete. E veja, a acusação não é que eu conheça ele, a acusação é de que eu teria recebido propina dele. Onde foi, qual o depósito, qual a construtora? Dos outros, eles citam que receberam tantos mil reais de uma construtora... Contribuições de campanha. Eu fiquei ultraincomodado e pedi a um advogado que procurasse proibir a revista de citar o meu nome. Era isso o que eu queria: que ela fosse impedida de citar o meu nome. Até porque, diferentemente do outro, esse processo corre em segredo de justiça. Vocês poderiam estampar num jornal e invocar o sigilo da fonte que o Roberto Carlos estava envolvido. Alguém de má-fé não poderia fazer isso? Segredo de justiça... Nessa tarde, eu liguei para o ministro Raul (Araújo, cearense, ministro do Superior Tribunal de Justiça) para pegar o telefone do presidente do STJ porque, se eu estivesse envolvido nisso, o foro seria o STJ. Liguei para o presidente Falcão (ministro Francisco Falcão, presidente do STJ). Liguei para o diretor geral da Polícia Federal, para o ministro da Justiça, para o ministro Teori Zavascki (do Supremo Tribunal federal, responsável por homologar os termos da delação premiada), de todos eu recebi a seguinte informação: “Governador, o senhor me desculpe mas não podemos fazer nada. Este processo corre em segredo de Justiça”. E eu dizia: “Mas doutor, e como está em uma página de uma revista?” “Não, o senhor sabe, a imprensa...” É essa s situação. Repito: não tenho nenhuma relação com Paulo Roberto. Não tem nem verossimilhança. O que foi que o Estado deu para ele que justificasse que, se eu fosse desonesto, que tivesse cobrado algo em troca? São documentos públicos. O Estado não tem um protocolo... Não tem nada. Se eu fizesse doação, como dizem que ele pediu um terreno, teria de ir um projeto para Assembleia. Juro pela alma de meu pai que não lembro de ter estado com ele sobre este assunto. Acho que quem me falou sobre este assunto foi o Roberto Smith (presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado). Vamos raciocinar. O que justificaria alguém receber alguma coisa de uma pessoa como essa? Ao meu juízo, alguém que tivesse influência para sua manutenção lá, na Petrobras. Alguém acha que eu tenho alguma influência na Petrobras? Alguém acha que eu pedi alguma vez para o Roberto não sei das quantas ficasse lá... a minha relação com a Petrobras sempre foi de cobrança com eles, do compromisso que eles têm de fazerem a refinaria. A parte que dizia respeito a gente, que é com a Petrobras, é a aquisição da área, que nós já fizemos e está disponível para a Petrobras. E desde então, nós só temos cobrado. O que eu posso dizer mais? Eu, de novo, tive problemas pessoais que não foram tão graves quanto da revista Veja, mas depois... Essa coisa do Facebook ajuda muito. Eu coloquei (um post sobre o assunto) e vi reações. Até um cara de oposição que disse “eu não acredito que você esteja envolvido nisso”. Essa coisa é assim: se você for desonesto, você faz isso para incorporar patrimônio. Investiguem meu patrimônio. Eu vou sair do governo com o mesmo patrimônio que eu tenho há 16 anos: dois ou três terrenos em Sobral, um apartamento em Fortaleza, tudo foi comprado antes de eu assumir o governo. Aliás, minto: tenho um terreno na Serra da Meruoca que eu comprei nesse período. Custou R$ 100 mil, tirado da minha conta bancária, pago com cheques em prestações de R$ 10 mil.
OP – O senhor falou que vai ser uma eleição dura e bastante apertada sobre o Governo. E o Senado? Como fica a situação do candidato Mauro Filho?
Cid – No Ceará, o passado recente mostra que o candidato a senador vinculado ao candidato a governador vitorioso ganha a eleição. A exceção foi a do pai do Mauro (o deputado federal Mauro Benevides), em 1974. Mas o Virgílio Távora não apoiou o Edilson Távora. Por trás dos panos, ele apoiou o Mauro Benevides. Foi a exceção.
OP – A outra exceção foi a eleição de Carlos Jereissati para o Senado, pai de Tasso.
Cid – Mas aí é bem anterior. Falo desde que nasci. De lá para cá, todos (os candidatos eleitos para o Senado) acompanharam (o candidato ao Governo coligado). A eleição para governo ainda está indefinida e, consequentemente... A sequência de definição do voto das pessoas é presidente, e aqui no Ceará a Dilma tem 55% espontâneo de presidente; depois governador, deputado estadual, federal e o último voto é para o Senado. Porque, para as pessoas, Senado significa muito pouco ou nada. É longe demais. Porque o deputado federal ainda leva uma emenda para a cidade. Senador, zero. É o último voto. Então, tudo pode acontecer.
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